Nada teu exagera ou exclui.

Houve um momento em que eu cheguei ao meu fundo do poço. Utilizo este pronome possessivo,
porque compreendo que cada pessoa passa por este momento de forma única.

Neste momento temos um vislumbre da vida que gostaríamos de ter e somos convidados a uma reforma intima, uma transformação. 

Ela pode vir de lições dolorosas da vida, ou de uma pessoa que você admira por ser empoderada de seus interesses, ou até mesmo de um filme lindo que te liberaram muitas emoções. O fato é que quando se depara com a vida que deseja ter, dificilmente se segue bem com aquela vida que não faz mais sentido. E assim o universo te convida a transformação.

A minha hora eu comento melhor na postagem " Momento do despertar". A transformação veio com a maternidade, momento que todos acham que deveríamos nos sentir sublimes, mas que eu me senti fragmentada, incompleta, meio feliz, meio amada, meio triste, meio com medo, senti que vivia pela metade. 

Em uma total falta de empatia com meus sentimentos e conflitos, aqueles que estavam em minha volta minimizaram e invalidaram minhas dores. Sempre contando histórias piores que a minha como se isso fosse melhorar algo.

Me senti vivendo o complexo do figurante x protagonista das histórias de cinema e TV. As grandes histórias de grandes heróis, vitimas, e vilões, é tão massivamente contada nestas tramas, que deixamos de lado as histórias não tão grandes assim. E acabamos valorizando só o incrível e minimizando alguns a uma vidinha medíocre que não merece holofotes. Sabe aquela vida morna, sem grandes problemas e sem grandes vitórias, e que por isso não merece atenção? Percebi que as pessoas que me aconselhavam eram figurantes de suas vidas. Educam, aconselham e vivem uma vida fragmentada, incompleta, pela metade e infeliz. Acreditam piamente que uma vidinha mais ou menos não merece atenção, nem mesmo a deles. Logo a minha também não mereceria nem a minha atenção.

Quase como se tivesse um Oscar de "grande sofredor", ou de "grande capacidade de suportar a dor", e no máximo você fosse ganhar um prêmio consolador de "o frouxo do ano", ou " aquele que não é forte o bastante", ou ainda um de "aquele que nem tem problemas e sofre".

E é ai que minha transformação tomou forças, e disse NÃO. De boas, a minha vida pode não ser uma desgraça, e nem as mil maravilhas, mas merece minha atenção. E minhas dores sejam elas o que acharem que é, são minhas, e em mim dói.  Chega de engolir o choro. Chega de engolir tristezas e raivas. Não quero mais me alimentar disso, e toda vez que for fazer mal para meu ser vou jogar fora, seja como reclamações, seja como choro. Comida ruim cuspimos, porque nos alimentamos de sentimentos ruins? Serei inteira. Em momentos, inteira triste, até esvaziar, para ser novamente inteira feliz. E assim seguir.

Li uma vez que "pra sem bom par, é preciso ser bom ímpar", e acho que é ai que mora um dos segredos da vida. Pra ser parte da vida de alguém, primeiro você tem que ter sua vida, entender como ela funciona, ser independente, ser muito bom em ser impar. E depois se tornar um bom par, senão seguirá se sentindo incompleto porque passou a vida sendo metade. Metade da história do outro, metade da laranja, meio feliz. Saca? 

E já dizia aquele poema:

Para ser grande, sê inteiro: nada
        Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
        No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda

        Brilha, porque alta vive.

Até mais.

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