8/100 "a beleza de viver"

Nos últimos dias tenho tido a oportunidade de me rever mais um pouco. Na verdade tenho testado minha imunidade. Como a maioria das doenças, quando uma pessoa se vê adoecida, procura médicos, depois precisa de um tempo de repouso, medicamentos, rever atitudes que o deixaram doente, evitar contato com o agente causador, até que haja recuperação completa. Após se passar por todo este processo, novos exames são realizados para avaliar a condição atual do paciente, e assim ele recebe alta para, gradativamente voltar a rotina normal. Agora imune a esta doença.
Percebi que não foi diferente comigo e o quadro de depressão pelo qual passei. Fui diagnosticada, tive de passar por médicos, psicólogos, psiquiatras, tomei remédios, depois terapias, alta, recaída, revi atitudes que me adoeceram, agentes causadores, limpeza, distanciamento e novos tratamentos, até que fui avaliada e recebi alta. Livre para voltar gradativamente para minha vida normal.
Foi difícil aceitar voltar a ativa, ao contato com o mundo, que durante o adoecimento me pareceu tão hostil. Me afastei de tudo aquilo que não me fazia feliz, mas também daquilo que me fazia feliz, com medo de cruzar com algo que me derrubasse novamente, como alguém que ficou com o pé engessado por um tempo.
Me vesti de agressividade, para conseguir sair da toca. E aos poucos percebi que as vezes não seria necessário tantos armamentos, porém, noutras vezes, eu deveria sim colocar da forma que melhor me conviesse o limite que hoje há entre eu e o mundo externo, que tantas vezes não respeitei. E segui nas tentativas, me deparei novamente com o prazer de viver. Porém desta vez sendo mais eu mesma, percebi que adquiri uma certa imunidade.
Hoje não é qualquer coisa que me faz perder energia com pensamentos obsessivos. Que não é qualquer um que me tira do meu eixo. Ganhei uma habilidade admirável de conseguir ver beleza em meio as trevas, de ver o lado positivo de estar onde estou, e fazer o meu melhor com amor. E de não ligar nem um pouco quando alguém acha que o que estou fazendo é insuficiente. De acolher conselhos construtivos, e fazer a egípcia quando não são. De ver quando as pessoas se refletem em mim se vendo mais do que vendo a mim mesma. E de seguir mais leve, sem o peso do pensamento alheio.
No fundo a melhor coisa que aprendi nesta imunidade é de ver que todos, absolutamente todos, daquele sem noção, àquele que doa sua vida ao outro, ou aquele que afasta-se dos outros para que não doa mais, todos estão fazendo o seu melhor. A beleza de ver por um pequeno instante que todos doem, e fazem de tudo para deixar de doer, que todos riem e fazem de tudo pra manter o riso.
Por um momento,uma fração de segundo compreendi que todos somos um, vi a dor do outro e senti em mim, quando me lembrei que quando fui assim. Vi a felicidade do outro, e a senti na lembrança dos sonhos que tenho. Quantas vezes meu caminhar feriu alguém, assim como o caminhar do outro me feriu. Espero com este vislumbre, compreender que as vezes somos atropelados por alguém que em sua forma de ser o fez num acidente. E não significa que estarei lá para ser atropelada o tempo todo, mas que posso seguir, sem raiva, ou até mesmo alertar que sua caminhada desvairada atinge alguns.
Agradecer que sou de certa forma um pouco mais imune a caminhada sem jeito do outro, pois me vejo ali, horas já tendo vencido a batalha pela qual ele vive, e noutras me orientando para vencer as minhas como eles.
Gratidão universo.

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